quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Banho

Apenas está noite quero banho de chuva
Frio a percorrer a pele e os ossos
E assim, a vida vai atravessando - me todo
Avisando docemente da vinda do sol
Do tempo sereno e claro
Pronto para afagar meu peito triste
Quando me sentir limpo, lavado
Serei diferente do passado.

Grãos

Foge, sempre pro mesmo lugar
Aquecido, azul, abafado, fechado
Reto, chão e teto quadrado
O som ligado fica do lado
E faz penumbra, se faz perdido
Nem está assim tão tranquilo
Fica na verdade excitado
E varre a vontade que não pode dividir
Remoendo emoções do passado
Que voltam quando o dia lhe deixa cansado.

Vermelho salgado

Ardem e não posso arranca-los
Sem perder a vista
Sem perder de vista
Ficam então vermelho salgado
Eles ardem
E quem trará o gelo?
Eles ardem
Sem lentes, embaçam
Eles ardem
E cegam diante de tanta verdade
Eles ardem,
Não há ninguém para resgata-los
Eles ardem
E não tardam a fechar.

Balanço

Amo - te, sem sequer saber teu nome
Amei -te, ao ver-te naquela cadeira de balanço
E o vento te desfazia os cabelos castanhos claros
Mas teu olhar era vitrio, perdido
Amei-te, quando num impulso encontrastes o chão
E teus pés descalços marcaram a areia fina
Amei-te, teus olhos fitavam o vazio da colina
Em busca do desconhecido para mim
E eu te havia encontrado e te perdido.

domingo, 20 de setembro de 2009

Direito

Hoje terás todas as lágrimas
Terás direito a toda dor
Repentina filha da saudade
Nascida do inesperando
Que durará todo o tempo
De um dia, de uma noite
Das horas que precisa
Para deixar de buscar entender
A ida no meio da madrugada
Enquanto estavas em meio ao sono
Ingênua a espera do dia seguinte
De mais um contínuo
Para se aprofundar

Brevidade

Guiaste-me de volta a mim
Enquanto trazia a tua vida ao meu encontro
Encontrei em tuas palavras as minhas
E devolvi a meus olhos todas as certezas
De quem sou, do que me fez até aqui chegar
Ficou o caminho marcado pelas lágrimas
Repentinas e sinceras respondendo ao adeus
E tentanto lavar os olhos
Até descobrir onde o final começou
E aquelas músicas já não serão mais as mesmas
E aqueles dias serão infinitos
Tão breves, tão significativos
Deixando grandes marcas em mim

sábado, 19 de setembro de 2009

Memória

Fique o tempo suficente deste lado
Para que queira esquecê-lo
Passar noites criando formulas
A fim de bani-lo do sono
Buscando torna-lo invesível
Tentando tornar insensível
A linha fina que ficou
Mapa do caminho com destino traçado
E mesmo assim, nem sabe onde chegou

Aliança

Ame, até que teu ar esgote
Até que não reste nada de hoje
Até que teu coração pare
Deixando o fruto de tanta entrega

Ame, até cegar
Para vês diantes de ti apenas teu bem querer
Resguardado na tua retina ainda viva
A refletir os beijos demorados

Ame, até suar
Com o corpo coberto de sal
Tornando o duplo um só
Entre os ponteiros que giram

Ame, até transbordar
Deixando marcas nos caminhos
Pegadas para os que passam
Elas, em formato de aliança.

Palavras ocas

Suas palavras são ocas
Além de tudo são toscas
E nada capaz de fazer
Se revelam insignificantes
Esquecidas no mesmo instante
Que você as tenta dizer
São todas abafadas
Enterradas sob as cordas de violinos
Que pulsam aos lado de tambores
Impossives de levar-me onde queres
Deixar o corpo emergir no calor
O sangue nao ferver
A pele não pede
O desejo não cresce
Você aqui nada deixou

Infinito

Quero dizer que te amo
Mas você ainda nao chegou
Deixo portas e janelas abertas
Quem saber teu perfume chega antes
E me avisa que estás perto
Colocarei o mais belo vestido
Os pés ficaram descalços
Sentindo -me firme no chão
Pra sentir tudo real
Vou dizer que te amo
Na esperança do infinito

Rodovia

Apague as luzes da rodovia
Mais um corpo inerte
O sangue irriga a capim seco
Machucando o olhar de quem passa
Doloroso momento dos que ficam
Trepassados pela certeza do silêncio
Das lágrimas devorando rostos
Ainda desconhecedores da ida
Do que seguia rápido
Em direção ao peito amado
E agora, não há mais como chegar

Distantes

Serão vagas lembranças
Presas em um mundo étereo
Quem são vocês?
A procura do meu íntimo
Tão distantes e desconhecidos
Sentido apenas a superficie das palavras
Não sabem onde chego
Nem nunca me tocaram profundamente
Pois não o querem
Buscam calor em vocês mesmos
Enquanto leem números
Respostas
E no final, esquecem como eu

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sala de vidro

permita -me avançar sobre as escadas
e alcançar a barra de tua saia revolta
sentido a leveda da tua alma
tão próxima a meus dedos magros
insanos na busca da tua pele clara
a reluzir no topo que não me deixam alcançar
impedido de assim descobrir teu gosto
sentir teu rosto a sorrir
abrindo as portas desta sala de vidros
refletindo o desejo a brandir no corpo meu.

domingo, 2 de agosto de 2009

signo de fogo

e os dias demoram pra passar
e minha mente ficar sozinha a lembrar
do muito que veio
de tudo que ficou
o sorriso tímido
foi o que tais olhos castanhos
agora distantes..aqui deixou

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quanto tempo presas
A olhar para o papel branco
E suas linhas retas silenciosas
Será a espero de rabisco?
Gravando a angústia escondida
Na ponta dos dedos magras
Ansiando pela passagem dos minutos
Presos em ponteiros quebrados
Sobre a lojata branca e fria

terça-feira, 7 de abril de 2009

Transbordar

Sua verdade guardada numa caixa opaca
Transborda dos teus lábios selados
Dos teus dedos estáticos
Tornando -se rio caudaloso
Derrubando a fina base feita de vontade
Agora encharcada do que não pode
Da dúvida que virou certeza
Numa despedida sem adeus.

sábado, 4 de abril de 2009

Importante

Eu queria prever o futuro
Para saber que tu estaria no meu olhar
Quando cedo do dia
E quando a noite viesse adormecer
Mesmo com o céu cinza lá fora
Tem você dentro de mim
Cada dia mais importante
Sem que eu possa te tocar mais uma vez
Ouvindo do teu silêncio o "não"
Trazido pela distância que te assegura
Que me entristece
E posso apenas esperar
Que o bem - querer passe
Ficando o beijo que te dei
Nas lembraças que guardarei.

terça-feira, 24 de março de 2009

Tanta verdade dita
Sobrou então a ausência
Afugentada talvez pela sinceridade
Algo quase infantil

A paz se chama Não

Aquele "naõ" dito tão delicamente trouxe paz
E agora os pés seguem para frente
Fica então a certeza do final
Sem voltas, sem desculpas, apenas o fim simples
Nada de esperas
Só o tempo a transformar o vivido
Novas lembranças sobre o caminho
Trilha ainda sem data para findar
Enquanto o "não vira sinônimo de paz
Pois nada há para escolher
Ninguém precisa tentar

sábado, 14 de março de 2009

Encontrar

Encontrarei você
Quando meus olhos se fecharam
Sobre a cama macia o corpo repousar
E as chaves do sonho estiverem em minhas mãos
Eles serão desenhados na madrugada
Enquanto lá fora as luzes se acendem
A clarear o caminho dos insones
Através da porta aberta da minha alma
Você vem, em tão curto tempo, faz morada
Para no amanhecer só relembrar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Vagar

O pensamento passa pelos lençóis a desfazer
Devagar junto com o anoitecer
Que repousa sobre tua respiração calma
Dentro do escuro desse quarto
Com suas paredes claras e escondidas
Desconhecidas desde olhos
Ávidos e sonhadores da tua tez quieta
A espera de deixar sobre o colchão macio
Apenas os fios do tecido que sobrou
E fica assim o pensamento
Escondido a esperar do despertar

segunda-feira, 2 de março de 2009

O que tens

Quanto de mim já tens?
Meu sono e a vigília
O pensamento todo
Este olhar castanho a relembra teu toque
Os dedos longos a desvendar a pele
Feliz pela doce força do teu beijo
Pela sensação guardada do enlace neste corpo
Refugiando -se no teu peito
Enquanto os ponteiros não marcam a hora de ir.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Nostalgia

Quanto te vejo há contentamento
Uma volta aos dias singelos
Mas não surgem sorrisos
Ao sentir esse bem-querer
Existem estradas em cima de relógios
Ponteiros em direção ao impossível
Enquanto lá fora escurece
Sem mensagens tuas
Levemente o frio passar pelas frestas
Mesmo quando as cortinas se fecham
Pesadas, escondendo o vazio
Preso, nas paredes sem cor.

Perpetuar

Todos os beijos
Signos dos novos filhos
Guardados num involucro rosa
Debaixo da cintura magra
Acima dos pés finos
Excercem força no inteiro
Porta aberta pra o outro
Com sua adaga de sangue
Arma do perpetuo
Com suas pegadas
Há cheiro de eterno

Ressussitar

Os outros atravessam espaços
E sao teus limites
Insistem no que não és
Sabendo te querer em seus espelhos
Hoje opacos quando há luz do sol
Ressussitando o corpo noctívago
Escravo e senhor do feminino
De bocas silenciosas em salas vazias

Reticências

retas...reticências..
sem essência ..segue cedo...
e deixa recado: avisa pro passado que parti

sábado, 24 de janeiro de 2009

Permanecer

Não entendo o que está a dizer
Mesmo assim continuo tão perto
Sem notar o começo do noite
Desanteciosa das letras distantes
E o que importa todos
Tão desconhecidos quanto tua voz rouca
Vinda do outro lado do mundo
Rompendo este silêncio branco
Escondido por cortinas encardidas
Perto de virarem pó
Como todas as imagens congeladas
Dentro da caixa de plástico e vidro.

castelos

Deixe-a esconder -se sob seus olhos sem cor
Segurar sua mão sem que percebam
O quão inofensiva está
Depois que a neblina não a protege
Dos desconhecidos quando o dia começa
E se encarrega de abrir o caminho sob o asfalto
Desembocando em histórias tristes
Cujo começo não se entende
E o final não se pode escrever
Deixe-a adormecer sobre seu peito
Sendo apenas mais uma insanã
Em busca de castelos de carne
Muralhes de palavras
Construidas em cima da verdade que vem.

Lembranças do sal

Lembranças do silêncio
Quebrado pelo correr do sal
Sobre a face insone
Durante dias, durou meses
Ficou o medo de endurecer
Escalar esse muro mudo
Vendo a lua vir
O sol ir
Sentindo os estilhaços ferindo
Onde só o sono alcança
Chegando em forma de pílulas
Falsa paz com nome de cura

Fingir

Se eu lhe espero
Talvez deva limpar o piso
Lavar os vidros
Para fazer de conta
Imaginar tudo novo
E fingir que tudo vai bem
Depois que anoitece
Atrás dos morros verdes
Da cor dos teus olhos
Que fiz chorar

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Batalhão

Tenho um batalhão enfilheirado
Com pés fundos na lama da estrada
Em frente a varanda de concreto
Com vista para tua janela fechada
Ilumina -a uma luz solitária
Projetando sombras sobre ti
E é delas que ele te protege
Afastando a presença do medo
Que queira te possuir
Te levando sem dizer nada.
A cura vem dentro do pêndulo
Feitura de ouro branco
Que atravessa a iris castanha
Apagando a dor com pó de morfina
Colhida da papoula mais fina
No outro lado do mundo
Para o corpo um insulto
E para alma salvação
Na ponta de uma agulha prateada
Que trespassa a carne rigida
Misturando as flores desse jardim
Erguer-se a lembrança do que nao existiu
Como um orgasmo infinito.

Sem cor

Sobre os pés o infinito em verde
Acima o azul sem fim
E na noite, eles se unem
Numa escuridão sem começo nem final
E assim, nem se sabe quem segue
O verde persergue o azul bonança
Ou o azul a misturar -se com o verde esperança
Para quando o dia se for sejam uno
Debaixo da névoa da noite
Descobertos pela frieza das lâmpadas incandescentes
Nesta cidade feita de ilhas de concreto
Com suas torres envidraçadas

Corrente

Como um mentiroso atravesso a noite
Escondendo por debaixo do sorriso essa fúria
Que tem força para debelar sua alma
Gana para rescontruir dos destroços
O pouco que sobrou desse corpo tolo
Seguidor dos teus pedidos
Escravos de sonhos mesquinhos
Corrente que prendem -me a esta margem
Ela fica do teu lado oposto e nao te alcanço
Ouços os passos, pegadas sobre o chao molhado
E sigo a noite, alcançarei o amanhã.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cega

Cega serás
Sentira então o peso da carne
O Cheiro do pêlo
A força do beijo
O sangue a pulsar
Sem a fantasia de tintas
Nem tecidos finos
Ou desenhos cobrindo o calor
Terás apenas o humano
Telas de vidros a separar
Verdade na ponta do teu dedo
Acariciando tuas palpebras secas
Atravessando a irís opaca.

Audição

E tua voz ocupando a claridade
Arranca as palavras da escuridão debaixo de meus olhos
Para onde fugir quando não há esconderijo?
Onde ficar quando não se tem portas abertas?
Enquanto as cortinas encobrem as janelas de vidro
Sem relógios para marcar o tempo
O final do sonho cresce
Pesadelos com rostos conhecidos sob o tecido grosso
Protegendo do frio que não se sente.

Duvidar do céu

Quero duvidar do céu
Para aceitar que segues outra direção
Oposta a meu olhar
Distante do meu abraço
Assim sofro menos
Faço os dias se tornarem escassos
Enquanto duvido que há sol e lua
Que teu oposto é tua cura
E fica aberta esta ferida
A marca do rastro dos teus dias
Envolto em meus beijos calidos
Resolvo duvidar, para crer que se fora
Para sempre.