sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Inseguro

Às vezes a gente não sente
Que pode no mar se joga
Olhar o escuro da noite
Beijar uma boca ao luar
Às vezes a gente não sabe
Que temos um corpo para abraçar
Que tem alguém olhando de lado
Querendo nossa boca beijar
Às vezes a gente não vê
Olhando para o mesmo lugar
Que tem alguém do nosso lado querendo nos encontrar
Às vezes a gente não ouve
Nosso nome ecoando na noite
Atravessando o céu a meia –noite
Nos chamando para outro lugar
Às vezes a gente não quer
Por medo de nos machucar
Acordar com um sorriso no rosto
Preparado para se apaixonar.

06/07/2001

Sem saber escrevemos cartas e elas foram para o lugar certo
As palavras não deviam chegar aquela parede escura
Nem toda aquela saudade devia se entregar
Se perder no meio da estrada
Temos todas as cartas dentro daquele baú verde
E elas disseram tudo e não podemos fazer nada
Percebemos a procura, a loucura, a ânsia desenhada do começo ao fim do texto
Os dedos trêmulos, as linhas tortas e o papel não era branco.
Desenhados com tinta preta dois corpos
Um olha o outro não sabe
Não sabe que é tudo, maior que o mundo, na sua finita pele
Na cor castanha de seus cabelos, no vermelho vivo de seus lábios
E no meio das palavras tudo se perde: a vergonha, o medo
Só fica a vontade de desmanchar os lençóis tão bem arrumados
De se perder nesse pequeno espaço
De se esconder no peito arfante. De ouvir o coração se acalmando
De sentir o suor banhando o caminho entre os seios
Os beijos se desmanchando e se refazendo na boca
O silêncio quebrado pela respiração em forma de apelos curtos
Mas no fim é apenas uma carta que chegou no lugar certo na hora errada.

Relógio

Será que já é chegada a hora de dizer "Adeus"?
Guardar debaixo dos travesseiros os sonhos
Feitos de palavras com jeito de abraço
Que transformaria o vôo num laço
Criado a partir de tantos traços
Desenhados num singelo papel
Que se perdem num silêncio que deixa o dia com gosto de fel

Pisos

Sufocou novamente o teu grito
Perdida entre corredores de piso claro não chora
Nem implora teu fim tão distante
E teu sonho morrer outra vez
E não pode chorar, nem se esconder
Não peça perdão pelos pecados não cometidos
Repetindo nas folhas brancas as mesmas palavras
Que terminam dizendo “Adeus”.

Sem data

De tanto pensar já não faço
De tanto querer já não tenho
De tanto te ver já te amo
Logo eu que achei que a luz apagou-se
Que a festa acabou, que a chuva cessou
De tanto olhar o relógio já não sei que horas são
De tanto sonhar já não durmo
O colchão conhece meu corpo
O coberto tem meu cheiro, a marca do meu rosto
De tanto andar já me perdi por essas ruas
De tanto chorar já não sinto a dor da partida
Sei o que é saudade
Conheço o meu e o teu passado, porque só lá me acho.

A busca

Que fizeste comigo?
Meus olhos te procuram
Meus dedos escrevem teu nome sobre folhas brancas
e na garganta um choro preso
querendo fica livre para banhar a saudade de lágrimas
curar a ferida que aqui nasceu com sal
transformar as doces palavras escritas em borrões azuis

Partida

Sinto que de meus olhos um lagrima tenta fugir
Para quem sabe te encontrar no silencio que deixastes
Mas em sua procura ela encontra meu peito, sozinho
Temeroso de que tenhas partidos sem se despedir
Temeroso de que tenha me deixando sem antes ter sido meu
De que tenha ido antes de me ouvir
Então, ela segue...
Salgada, faz arder a pequena ferida que se abriu
Que cresce com o contar das horas que marcam tua ausência
Que marcam a minha tentativa de desfazer o nó que fizestes
De esquecer o bem querer que me deste
De apagar o sorriso que me roubastes
De sonhar com o abraço doce que não te dei.