terça-feira, 29 de abril de 2008

Fantasma

Não recorda mais aquela face
Vê apenas um borrão sobre a tela inacabada
Manchas provocadas pelas gotas grossas
Misturando as cores antes nítidas
De vivas, tornaram -se sem forma
Mas a impressão ficou
Como vultos atravessando estradas escuras
Dentro de sonhos de crianças assustadas
Que fogem para debaixo das cobertas
Nas camas seguras de seus pais.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Pedaços

Metade é só saudosismo
Outra metade partiu
Sabendo de toda verdade
Verdade que ficou sempre aqui
Metade é choro a noite
Outra ri sem saber
Sabendo que o dia já chegar
Que nada pode fazer
Metade ainda é metade
A outra inteira virou
Deixando pra trás só saudade
No peito de quem sozinho ficou

Olhar

Gosto de te olhar
E sentir o dia passado
A esperança voltando
Quem sabe para ficar

Gosto de te olhar
Vê o futuro mais calmo
Sentir um peito quieto
O calor retornar

Gosto de te olhar
Saber que é possível continuar
Que novas almas chegam para nos purificar
E você vem o dia alegrar.

sábado, 26 de abril de 2008

Era

Foi tão bom, mas já era
Como o século que passou
Como a semente que virou planta
Como a planta que virou pó
Porém, ainda tem gosto
Sal forte vindo do mar
Onde as ondas não chegam
E por isso não levam
Não abrandam o ficar..

Assinalar

Resposta em forma de bolinhas pretas
De 0 a 100 em três horas
De incerteza a casa gramada no centro de mundo
Caneta de tinta escura
Corpo transparente, fila para entrar
Uma hora para ficar
Três últimos irão o papel assinar
E afirmar que ninguém colou
Que ninguém burlou
Todos saíram com gosto de sal
Entre os dedos cheios de calos
Com as mentes limpas
E com os olhos presos no papel
Que novo logo virá.

Recortes

Aboliu o dicionário
Comprou um revista
Cortou as fotografias
E contou a história com recortes
De estórias
Que se tornaram o real
Feito de cola e dissabor
Sem palavra
Nada de descrições
Apenas olhos em preto e branco, em cor
Remendos de passados em forma de presente perdido
Mãos dadas no começo dessa ida
Muitas chegadas e sem despedidas.

Divaga

Escreve, quem sabe, para se despedir
Deixar sobre o caminho as palavras ditas
Na vã esperança de esquecer
Jogando sobre o chão molhado de tempo o passado
A vontade louca de um futuro seguro
Sem tantas idas, tantas voltas
Só um pouco de certeza do cheiro de café
Quando for sete horas.

sábado, 19 de abril de 2008

Sobrenome

Qual será o sobrenome do Destino?
Pode ser Sorte
Quem sabe Chance
Ou Tentativa
Expectativa
Acaso
Melhor, Dúvida.

Vida

Quanto riso no peito vivo
Quanto vida no peito nu
Quanto sangue na veia grossa
Força contra a dor imposta
Sabes quando ela roça
Quando louca se encosta
Pra tentar te invadir
Buscando se redimir
Da lágrima que fez cair
E tu, com os teus braços
A afasta do seio teu
Segue, então, novo caminho
Sabendo que nada perdeu.

Navegar (para minha amiga Nayana)

Se tem caminho, tem tua pegada
Se tem alegria, tem teu riso
Se tem música, tens o compasso
E teu abraço é feito laço
Une a todos num peito só
Tanto carinho perto da lua
É atenção em frase curtas
Enquando o sono decidi vir
Divide a lágrima quando tristeza
Dá um afago se fica amargo
Constrói o chão se vem o sonho
E vamos todos num mesmo barco então
Chegar a portos, sair de novo
Fazendo de tudo pra renascer

Aí de mim

Ai de mim..te quero
Espero quieta pela madrugada
Para por ti ser achada
Já que por ti me perdi
Sem sono, sem relógio
Sem parada
Procurando por você aqui
Tu chegas e não diz nada
Aproximo, afasto
E arrasto a ponta do vestido em ti
Desfaz essas linhas vermelhas
Preenche as horas negras desta noite
Não me faz pedir..

Esquecidas no tempo (para Diego Crispim)

Onde se esconderam as palavras nesses dias passados?
Apesar dos livros sobre a mesa branca
Das folhas limpas sob o chão sem poeira
Do silêncio dentro das paredes verdes
Do dia cinza pedindo aconchego
Da chuva forte abrindo a janela
Talvez, estejam entre as cobertas desarrumadas
Quem sabe estiveram pertinho do mar
Em forma de espuma tocando a areia
Ou, esperando alguém chegar
E abrir os livros, riscar as folhas
Tocar os discos, banhar na chuva limpa
Desmanchar...

Abrigo

Vai lá e confessa
Descortina teu olhar
Desenlaça as mãos frias
Aceita teu desejo em pele branca
Desembaraça as pernas e anda
Em direção as gotas salgadas
Pois nada pode esperar.

Decisão

Apague as luzes.
Tire as mãos da mesa
Deixe os textos inacabados
E use o carvão para esboçar o desejo
Assim, inscrito em teu olhar castanho fugidio
Apague as luzes!
Pegue as chaves
Siga o caminho até onde quer chegar
Atravessando com pressa a rua escura
Apague as luzes!
Grita o nome
Vá buscar.